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 Metáfora da Poesia Potiguar









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Zila Mamede





Zila Mamede

Biografia

 

Logo 1            A poetisa, especialista em biblioteconomia e pesquisadora Zila da Costa Mamede, nasceu em setembro de 1928 em Nova Palmeira, vila fundada pelo seu avô e por seu padrinho de batismo, hoje, município do estado da Paraíba.

            Ainda criança, mudou-se para a cidade de Currais Novos (RN), onde viveu até o início da sua adolescência. Corria a Segunda Guerra Mundial quando, devido aos conhecimentos mecânicos do seu pai, a família passou a residir na capital do nosso estado onde este  trabalhava no reparo de máquinas na base aérea de Parnamirim.

            Seu contato inicial com a literatura se deu por incentivo do seu padrinho de batismo, Francisco de Medeiros Dantas, com quem viveu algum tempo entre as capitais João Pessoa e Recife.

            Zila começou a escrever aos vinte e um anos de idade, segundo os estudiosos da sua vida e obra, após uma tentativa frustrada de ser freira. Diz-se que ela, sentindo “saudades do céu”, enfrentava uma angústia existencial em meio a qual se descobriu poeta. Seu primeiro livro, Rosas de Pedra, foi publicado em 1953, sendo considerado por Manuel Bandeira “um dos melhores livros de versos brasileiros”.

            Sua pequena, porém, marcante obra literária conta ainda com mais seis títulos, além do citado acima: Salinas (1958), O Arado (1959), prefaciado por Luís da Câmara Cascudo, Exercício da Palavra (1975), Corpo a Corpo (1978), Navegos (1978), reunião das demais obras e Herança (1984).

            Na área de biblioteconomia publicou cinco livros, dois dos quais sobre a obra de Câmara Cascudo. Dedicou-se, ainda, a pesquisa sobre João Cabral de Melo Neto, resultando no livro Civil geometria – bibliografia crítica e anotada de João Cabral de Melo Neto, obra póstuma, publicada em 1987.

            Nesse âmbito, ela empreendeu esforços em reestruturar as maiores bibliotecas do nosso Estado, a Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que atualmente tem o seu nome, e a Biblioteca Pública Estadual Câmara Cascudo.

            Em vida, um das suas grandes paixões foi o mar, por quem tinha imenso fascínio. Em 13 de Dezembro de 1985, segundo Evelyne Furtado, Zila Mamede “integrou-se às águas cálidas da Praia do Forte, em Natal.” O mar que ela tanto amava “devolveu seu corpo sem vida na Praia da Redinha”. Cessara a vida, eternizava-se os feitos e a obra dessa mulher ímpar que conseguiu tornar respeitada a poesia potiguar no cenário nacional, sendo ela mesma, um dos grandes expoentes da poesia brasileira.


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POEMAS PARA ANÁLISE


SONETO TRISTE PARA MINHA INFÂNCIA

De silêncios me fiz, e de agonia
vi, crescente, meu rosto saturado.
Tudo de mágoa e dor, tudo jazia
nos meus braços de infante degredado.

Culpa não tinha a voz que em mim nascia
pedindo esses desejos - sonho ousado
por onde o meu olhar navegaria
de cores e de anseios penetrado.

Buscava uma beleza antecipada
- a condição mais pura de harmonia
nessa infância de medos tatuada,

querendo-me em beber de inacabada
procura que, em meu ser, superaria
a minha triste infância renegada.

(Rosas de Pedra, 1953)

ONDE

Entre a ânsia
     e a distância
     onde me ocultar?

Entre o medo
     e o multiapego
     onde me atirar?

Entre a querência
     e a clarausência
     onde me morrer?

Entre a razão
     e tal paixão
     onde me cumprir?

(Corpo a Corpo, 1978)

 

 

 

TEXTO CRÍTICO

 


RETALHOS DA INFÂNCIA E A BUSCA DO EXISTIR NOS POEMAS SONETO TRISTE PARA MINHA INFÂNCIA E ONDE DE ZILA MAMEDE

 Janaylza Lima de Medeiros Araújo

Rita Gomes de Macedo[1]

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo examinar a temática infância e o vácuo da existência do ser na poesia de Zila Mamede, particularmente, nos poemas Soneto triste para minha infância e Onde. Respectivamente, esses poemas estão nos livros Rosas de Pedra (1953) e Corpo a Corpo (1978). A obra poética de Zila Mamede comporta vários temas, sendo a presença do elemento água bastante recorrente. Nos poemas em análise essa temática não é contemplada. Bastante versátil da na sua produção, Zila dispensa especial atenção às lembranças da infância no livro O Arado, porém, por uma espécie de encantamento com o jogo das palavras contidas nos poemas em pauta, preferimos nos deter em analisá-los. Portanto, vale lembrar que as considerações que se seguem são apenas observações nossas embasadas, unicamente, pelo deleite da imaginação provocado pela leitura dos poemas

PALAVRAS-CHAVE: infância, tristeza, busca de si

1 INTRODUÇÃO

            As linhas que se seguem tem como objetivo fazer uma leitura nossa dos poemas Soneto triste para minha infância e Onde da poetisa potiguar Zila Mamede. Constarão do registro de observações de simples estudantes das letras, não sendo, portanto, uma análise nem de profundas conhecedoras das obras da poetisa, nem de grande conhecimento e perspicácia quanto à arte da análise literária. Dessa forma, apenas tentaremos expressar com palavras aquilo que a emoção colheu durante a leitura de alguns poemas no decorrer da pesquisa para a realização deste.

            Assim, dividiremos esse singelo trabalho em três tópicos: 2- Retalhos da infância em Soneto triste para a minha infância, onde estaremos dissertando quanto às percepções depreendidas no ato de leitura desse poema; 3- A busca do Existir no poema Onde, também destacando as impressões colhidas neste e, por fim, 4- Conclusão. Nesse tópico estaremos apresentaremos nossas considerações finais diretamente relacionadas aos poemas em análise, haja vista a inviabilidade de discorrermos sobre toda a obra da autora.  

2 RETALHOS DA INFÂNCIA

            A fase adulta do ser, bem sabemos, é construída com o material de vida que nos é dado na infância. Essa fase pueril, muitas vezes renegada pelas vicissitudes da vida, é matéria-prima na construção de um adulto “centrado” e consciente de si e do mundo à sua volta.

            Todos nós, em algum momento de reunião familiar, já ouvimos nossos pais contarem sobre suas peraltices infantis e também enfatizarem quão severa era a educação das crianças doutros tempos. Nesses relatos, não é motivo de estranhamento a constante desvalorização da criança, sendo esta sempre posta num plano inferior de subordinação e obediência cega aos seus pais, sem direito de vez e voz nos ocorridos dos seus lares.

            Partindo desse pressuposto, inferimos que essa também era a realidade da menina Zila, contada poeticamente nos primeiros versos do Soneto triste para minha infância:

“De silêncios me fiz, e de agonia
vi, crescente, meu rosto saturado.”

            De silêncios me fiz... Esta frase parece querer expressar como foi constituída a meninice de Zila. Imaginamos a poetisa, ainda inconsciente desse poder mágico de transformar simples palavras em poesia, crescendo “muda” diante das discussões e decisões da sua família, à parte, como se sua cabecinha de menina não fervilhasse de ideias e de falares. O eu lírico destaca, ainda, outro elemento formador de si, a agonia, a qual crescia nele revelando-se em seu rosto numa espécie de fardo.
                        “Tudo de mágoa e dor, tudo jazia

                        nos meus braços de infante degredado.”

            Entendemos por esses versos que o eu lírico se utiliza da metáfora da morte como que pra dizer que mesmo estando vivas em si: opiniões, sentimentos, desejos, ressentimentos, angústias estes morriam em seus braços de criança ante a depreciação sofrida pelos infantes.

                        “Culpa não tinha a voz que em mim nascia

                        pedindo esses desejos – sonho ousado

                        por onde o meu olhar navegaria

                        de cores e de anseios penetrado.”

            Toda essa estrofe nos remete ao entendimento de que mesmo no silêncio uma voz falava dentro do eu lírico. Essa voz lhe transmitia desejos - ao que nos parece - que não respeitavam as conveniências de sua época e lhe enchia os olhos de cores, como que sua vida fosse, talvez, cinza e de ânsias.

                        “Buscava uma beleza antecipada

                        - a condição mais pura de harmonia

                        nessa infância de medos tatuada,

 

                        querendo-me em beber de inacabada

                        procura que, em meu ser, superaria

                        a minha triste infância renegada.”

            Às duas últimas estrofes do poema cabem inúmeras leituras, como também, às outras. O primeiro verso da terceira estrofe parece exprimir um desejo do eu lírico de encontrar-se com seu futuro, o que lemos como um desejo de que este fosse melhor, belo. Buscar essa beleza era uma forma de conciliar a triste realidade, feita de medos, com um futuro pintado com as cores do sonho, da fantasia.

            Ao dizer que queria beber-se de inacabada procura que, em seu ser, superaria a triste infância renegada, compreendemos que o eu lírico recusa esse pedaço triste de sua existência e numa procura infinda busca dentro de si os mecanismos de resistência para viver essa fase e posteriormente ver-se vitoriosa diante dela.

 

3 A BUSCA DO EXISTIR NO POEMA ONDE

           

            O belíssimo poema Onde, publicado no livro Corpo a Corpo em 1978 nos parece uma busca do eu lírico, no sentido de encontrar-se, de entender onde ele poderia existir, permanecer, satisfazer-se.

            Construído por estrofes feitas de perguntas, o poema nos transmite uma dada inconstância do ser como se o eu lírico não tivesse certeza de onde deseja estar.

            A primeira estrofe apresenta um ser que parece não está satisfeito seja na angústia passada, seja na distância presente, desejando, então, de ambas esconder-se.

            Já a segunda estrofe demonstra a carência do eu lírico, desejoso de lançar-se seja no medo, talvez os medos tatuados na infância, seja no multiapego, provavelmente esse multiapego diga respeito às conquistas da vida adulta.

                        “Entre a querência

                        E a clarausência

                        Onde me morrer?”

            Essa estrofe, a terceira do poema, nos incita à compreensão de que o eu lírico parece divido entre uma querência, um desejo, talvez um amor por este ansiado e um outro que embora presente era claramente ausente. Ambos, despertando no eu lírico desejo de morte.

            A estrofe final revela a indecisão do eu lírico, no sentido de encontrar o seu porto, o cais onde pudesse finalmente realizar-se. Daí a pergunta, onde me cumprir? Na razão ou na paixão? Onde estaria a satisfação?

           

4 CONCLUSÃO

            É inegável que as considerações acima podem, perfeitamente, não está em concordância com a análise de críticos e pesquisadores experientes, leitores e conhecedores profundos da obra da poeta Zila Mamede. Mas, quem disse que poesia tem explicação pronta, velada numa só visão?

            Poesia é devaneio, é, antes de tudo, o que suas palavras misturadas conseguem despertar no leitor. É a viagem imaginária que faz o leitor querer ser também poeta num arroubo da alma, desejosa de a outros fazer deleitar-se pelo manusear das letras.

            Seja como for, acreditamos ser necessário ousar, permitir-se também devanear, analisar, inferir, deduzir, pois, tanto quanto haja de real numa poesia ela é sempre construída numa fuga d’alma àquele lugar secreto que só os poetas e loucos conhecem bem.

            Portanto, o verdadeiro porque desses poemas jazem na alma da poeta no fundo do mar, talvez o saiba os peixes ou os caramujos a quem ela, em vida, prometeu que escreveria suas poemas em seus lábios.

           

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/zila_obra.html. Acesso em 21.12.2010.

http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/517460. Acesso em 21.12.2010.

http://www.memoriaviva.com.br/zila/zila3.htm. Acesso em 22.12.2010.



[1] Graduandas em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.